26-03-2021

Indicadores na remuneração variável alinhados às boas práticas ambientais, sociais e de governança.


As metas associadas a questões ambientais, sociais e de governança (ESG) na sigla em inglês, que já fazem parte da atuação das Ouvidorias quanto às duas últimas temáticas, foram abordadas em matéria publicada pelo Jornal Valor no dia 25, e assinada por Bárbara Bigarelli e Stela Campos.
 
A matéria apresenta diversos casos de grandes empresas que estão ampliando ou começam a usar indicadores na remuneração variável de seus executivos alinhados às boas práticas ambientais, sociais e de governança. É resultado da pressão de investidores e dos conselhos de administração. A avaliação é que o ESG é importante para a cultura organizacional e para ampliar os resultados financeiros.
 
É citada pesquisa com 168 empresas americanas, feita pela Willis Towers Watson, apontando que 65 por cento delas planejam atrelar prioridades da agenda ESG à remuneração este ano. No Brasil ainda não se chegou lá mas há pressão para avançar.
Grandes empresas como a siderúrgica Gerdau utilizam indicadores ESG em seus planos de incentivo aos executivos. Na Gerdau, houve um “plano de gestão da mudança” para convencer os executivos de que novos indicadores e métricas eram necessários à remuneração.
 
Há dois modelos para atrelar a remuneração variável às práticas de ESG, como mostra a matéria. O americano, com foco no curto prazo, onde são cobradas metas individuais anualmente, e o modelo europeu que tem uma conotação mais estratégica, incluindo metas para dois, três ou até cinco anos.
 
É um desafio incluir na remuneração indicadores para atingir metas de longo prazo, que ultrapassam exercícios financeiros, e alinhá-los a conquistas de curto e médio prazos.  Esta é a avaliação de Leonardo Dutra, diretor de sustentabilidade da EY no Brasil. Uma estimativa interna da EY calcula 360 padrões elegíveis dentro da agenda ESG - que vão desde o relatório integrado, passando pelos mais antigos como o Global Report Inciative (GRI) e a Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), focado em questões climáticas.
 
No ano passado todos os executivos da Vale tiveram a inclusão de indicadores atrelados ao ESG em suas metas de longo prazo - além do indicador de retorno ao acionista (TSR) - e que estão relacionados a temas que a companhia trabalha para 2030, como saúde, segurança e sustentabilidade. A empresa avançou nessa área após passar por dois grandes desastres ambientais e sociais. Em 2015, houve o rompimento da barragem de Fundão da Samarco, subsidiária da Vale em Mariana e em 2019 o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), ambos causaram mortes e prejuízos bilionários. 
 
O grupo Natura & Co, que trabalha metas sustentáveis e sociais na avaliação e remuneração desde 2009, afirma que um caminho é “começar com pequenas metas e ir evoluindo, refinando métricas e tendo uma base, até estatística, para aumentar objetivos. “Não é do dia para a noite que as pessoas ganham um mindset social e ambiental”, diz Mariana Talarico, diretora de cultura e desenvolvimento do grupo. “Comece com pragmatismo”, diz a executiva. “Entenda qual aporte pode dar à sociedade, quais indicadores estão dentro do escopo que possam impactar”. A executiva também diz que é fundamental ter metas que possam ser mensuradas com clareza. “Quanto mais medimos e mostramos o impacto, mais as pessoas compram a causa”. 
 
Um dos grandes desafios de trabalhar a agenda ESG é fazê-la de forma integrada na gestão, diz Soto, da Braskem. A petroquímica diz que faz isso com alinhamentos de curto e longo prazos, fluxo de comunicação constante, definição de objetivos claros e reconhecimento. “Nós não produzíamos uma grama de produto reciclável em 2013. Começamos a discutir isso, fomos criando metas e evoluindo. Passamos a produzir 9 mil toneladas e queremos chegar a um milhão de toneladas até 2030. Quando você vai integrando ao negócio, os resultados vêm”. 
 
A Natura & Co, acredita que ter métricas não somente financeiras na remuneração, mas alinhadas ao seu propósito e valores, aumenta a retenção de executivos. “O fator remuneração não é mais o único que conta. Propósito, desenvolvimento e carreira internacional pesam muito”, diz Mariana. Atualmente, diz a executiva, 80% dos candidatos que chegam à Natura vêm pelas causas que a empresa diz se engajar. 

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